A saúde mental e a saúde física são duas vertentes fundamentais e indissociáveis da saúde.Cuidar da saúde mental é tão importante quanto cuidar da saúde física, até porque a segunda depende da primeira para estar em dia.
É sentimo-nos bem connosco próprios e na relação com os outros, sermos capazes de lidar de forma positiva com as adversidades. É termos confiança e não temermos o futuro. Mente sã em corpo são!
Não existe um consenso científico em torno de um conceito de saúde mental. Na falta de uma definição específica, vamos ver a ideia da definição de saúde em geral apontada pela Organização Mundial de Saúde (OMS):
“Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença”.
Note que, de acordo com a maior autoridade em saúde do mundo, a saúde mental é parte integrante do processo.
Não somos totalmente saudáveis se a nossa mente não se encontra em equilíbrio. Isso leva à conclusão que esse é um aspeto da saúde que, se negligenciado, pode levar a consequências danosas no curto, médio e longo prazo.
A pesquisa da Royal Australian College revela também que as mulheres são as que mais sofrem com as doenças psicossomáticas. Essa tendência é confirmada pela OWD, segundo a qual, 11,9% da população feminina sofre de doenças mentais, enquanto na masculina, esse percentual é de 9,3%.
A população mais jovem, entre 15 e 49 anos, está entre a mais acometida por esse tipo de enfermidade.
Um dos desafios enfrentados pelos órgãos de saúde públicos e privados é vencer o estigma associado às doenças mentais. As pessoas que sofrem de distúrbios como ansiedade e depressão e outros mais graves, como transtorno bipolar ou esquizofrenia, temem ser excluídos socialmente ou serem chamados de “loucos”. Porém, ignorar um problema grave só piora a situação.
Problemas de saúde mental mais frequentes
- Ansiedade
- Transtorno de Stress Pós-Traumático
- Depressão
- Dependência de álcool e outras drogas
- Síndrome de Burnout
- Perturbações psicóticas, como a esquizofrenia
- Atraso mental
- Demências
Estima-se que em cada 100 pessoas 30 sofram, ou venham a sofrer, num ou noutro momento da vida, de problemas de saúde mental e que cerca de 12 tenham uma doença mental grave.
A depressão é a doença mental mais frequente, sendo uma causa importante de incapacidade.
Em cada 100 pessoas, aproximadamente, 1 sofre de esquizofrenia.
Problemas de saúde mental mais frequentes
Qualquer pessoa pode-se sentir eventualmente ansiosa em razão de algum tipo de expectativa, ou seja, a ansiedade em si não é uma doença. Ela começa a se tornar um distúrbio quando se prolonga ou quando aparece sem que haja um motivo para isso. Pessoas ansiosas estão num estado de permanente tensão, acreditando que, a qualquer momento, algo de mau pode acontecer. Sofrem de autoestima baixa, o que gera reflexos negativos na parte social, afetiva e no trabalho.
O tratamento da ansiedade envolve em geral psicoterapia e métodos de reabilitação sociais e alternativos. Nos casos mais graves, podem ser prescritos ansiolíticos controlados
Quando se agrava, a ansiedade pode levar a ataques de pânico, em que os medos (muitos deles irracionais) surgem de forma repentina e muito intensa, afetando fortemente o corpo. Ataques sucessivos caracterizam a Síndrome do Pânico, um estado em que a pessoa passa a se preocupar de maneira doentia com o futuro e com o que está ao seu redor.
Normalmente, ataques de pânico estão associados a outros distúrbios comportamentais e são mais frequentes nas pessoas ansiosas ou depressivas. Manifestam-se também com uma série de reações físicas, como sudorese, taquicardia, tonturas e dores localizadas.
Além da psicoterapia, podem ser prescritos benzodiazepínicos, em muitos casos por longos períodos de tempo.
Ainda que esteja em muitos casos associada à ansiedade, trata-se de um problema distinto, cuja principal característica é a falta de disposição até para tarefas simples. Dessa forma, a depressão é um potencial agente de incapacitação para o trabalho, já que impede seu portador de levar uma vida normal. Leva à falta de energia, de apetite e de libido, com consequências diretas na qualidade de vida.
Assim como a ansiedade, a depressão também pode ser tratada com psicoterapia ou, nos casos mais agudos, podem ser prescritos antidepressivos.
Enquanto a ansiedade e a depressão em muitos casos não têm uma causa primária aparente, no Transtorno de Stress Pós-Traumático , a origem é mais clara.
Nesse tipo de transtorno de ansiedade, o estado ansioso surge em razão de um evento específico e de forte impacto emocional. É o caso de pessoas que não conseguem superar a perda de familiares, que sofreram acidentes, veteranos de guerra ou vítimas de sequestro, entre outras causas.
Outro distúrbio com causas específicas é a Síndrome de Burnout, ou esgotamento.
Quem pode ser afetado?
Ao longo da vida, todos nós podemos ser afetados por problemas de saúde mental, de maior ou menor gravidade.
Algumas fases, como a entrada na escola, a adolescência, a menopausa e o envelhecimento, ou acontecimentos e dificuldades, tais como a perda de familiar próximo, o divórcio, o desemprego, a reforma e a pobreza podem ser causa de perturbações da saúde mental.
Fatores genéticos, infeciosos ou traumáticos podem também estar na origem de doenças mentais graves.
Falsos conceitos sobre a doença mental
As pessoas afetadas por problemas de saúde mental são muitas vezes incompreendidas, estigmatizadas, excluídas ou marginalizadas, devido a falsos conceitos, que importa esclarecer e desmistificar, tais como:
- As doenças mentais são fruto da imaginação;
- As doenças mentais não têm cura;
- As pessoas com problemas mentais são pouco inteligentes, preguiçosas, imprevisíveis ou perigosas.
Mesmo nas doenças mais graves é possível controlar e reduzir os sintomas e, através de medidas de reabilitação,
Todos nós podemos ajudar
- Não estigmatizando;
- Apoiando;
- Reabilitando;
- Integrando
Integração das pessoas com doença mental
Os indivíduos afetados por problemas de saúde mental são cidadãos de pleno direito. Não deverão ser excluídos do resto da sociedade, mas antes apoiados no sentido da sua plena integração na família, na escola, nos locais de trabalho e na comunidade.
A escola deverá promover a integração das crianças com este tipo de perturbações no ensino regular.
Deverão ser criadas mais oportunidades no mundo do trabalho para as pessoas portadoras de doença mental.
O envolvimento das famílias nos cuidados e na reabilitação destas pessoas é reconhecido como fator chave no sucesso do tratamento.
Como cuidar da saúde mental?
Os transtornos comportamentais podem ser causados por fatores como genética, uso de medicamentos ou lesões neurocerebrais.
Nesses casos, o tratamento farmacológico é o mais indicado para controlar os sintomas.
Contudo, boa parte dos pacientes que sofrem de algum desses distúrbios pode ser tratado com métodos de baixo risco, como psicoterapia e terapia de grupo, entre outras abordagens.
Tanto que, nos quadros mais brandos, basta apenas realizar mudanças no estilo de vida para que a saúde da mente seja restabelecida.
Veja a seguir algumas ideias efetivas para combater e prevenir os males que afetam a saúde da mente.
Para manter uma boa saúde mental
- Não se isole
- Reforce os laços familiares e de amizade
- Diversifique os seus interesses
- Mantenha-se intelectual e fisicamente activo
- Consulte o seu médico, perante sinais ou sintomas de perturbação emocional.
Atividade física
- A medicina já tem mais que comprovados os benefícios à saúde proporcionados pela prática de desporto.
- No nível físico, a atividade desportiva faz com que o sistema nervoso libere hormonas ligadas ao prazer, como a endorfina e a serotonina.
- É como se fosse um “doping” natural, quando o corpo produz de forma autónoma substâncias que elevam o bem-estar e, em consequência, melhoram a saúde da nossa mente.
- Com a prática regular, a pessoa consegue voltar a um estado equilibrado e ter uma rotina produtiva em suas atividades.
Sono
- Da mesma forma, médicos e cientistas sabem que, sem uma rotina de sono regular, o risco de desenvolver problemas relacionados à saúde da mente aumenta consideravelmente.
- Como destaca um artigo da Universidade de Harvard (em inglês), a privação de sono afeta diretamente a parte mental e cognitiva, com prejuízos emocionais e no rendimento profissional.
- Não surpreende, portanto, que pessoas ansiosas sofram de sintomas como insónia ou sono irregular.
- De qualquer forma, é preciso investigar com um médico as reais causas da falta de sono, a fim de encontrar o tratamento adequado.
Alimentação
- Provavelmente já deve ter observado que a boa saúde depende de uma soma de fatores que precisam estar em equilíbrio.
- Um dos mais importantes é a dieta, ou seja, aquilo que comemos e a frequência com que nos alimentamos.
- Artigo da Mental Health Foundation (em inglês) realça a relação entre alimentação e saúde mental, destacando os benefícios de comer de forma equilibrada para o nosso bem-estar.
Vida social
- A terapia de grupo é uma das atividades que podem ser recomendadas no tratamento da ansiedade ou da depressão.
- Ajuda a pessoa com problemas de saúde mental a se reintroduzirem numa comunidade por meio de atividades lúdicas e tarefas reais.
- Dessa forma, ela recupera o sentido de pertença, voltando a sentir-se útil e produtiva.
- Essa é também uma abordagem usada para recuperar relacionamentos em crise, como acontece nas terapias entre casais.
Tratamento
Como já destacamos, os problemas de saúde que atingem a área mental podem ter causas orgânicas. Há pessoas, por exemplo, que têm uma tendência crónica para se sentirem infelizes em razão de fatores genéticos. Para outras, a saúde da mente é prejudicada por disfunções hormonais ou neurológicas, entre outras patologias. Nesses casos, o tratamento mais indicado deve ser prescrito e acompanhado por médicos psiquiatras, neurologistas e psicólogos.
Somente esses especialistas são habilitados para prescrever medicamentos de uso controlado, muitos dos quais devem ser administrados em longo prazo.
Quais os hábitos que prejudicam a saúde mental?
É consenso entre terapeutas e médicos que o controle da ansiedade e outros transtornos passa por uma profunda reformulação interna.
Para isso, o melhor caminho para alcançar um estado mental mais saudável é mudar os próprios hábitos.
Essa mudança tem a ver com evitar tudo que for nocivo para a saúde da mente.
Confira na sequência quais os hábitos que podem retardar o seu desenvolvimento pessoal e, se repetidos, levar a problemas de ordem psicossocial.
Uso excessivo da internet
- Ninguém contesta que a internet é uma conquista da humanidade, facilitando as comunicações e as relações de trabalho.
- A internet tornou-se o meio de comunicação hegemónico, desbancando o reinado de décadas da televisão.
- Assim como já existiam pessoas que passavam muito tempo vendo TV, com o tempo surgiram os “viciados em internet”, principalmente via smartphone.
- Esse é um distúrbio já identificado, com prevalência de 1,5% na população americana e de 8,2% entre os europeus.
- Uma solução para isso é controlar a quantidade de horas online, o que pode ser monitorado inclusive com a ajuda dos próprios aplicativos para celular.
Vícios
- O uso abusivo de drogas, medicamentos e álcool pode ser mais que um vício e se caracterizar como uma doença.
- No caso das bebidas alcoólicas, os riscos são ainda maiores por serem uma substância socialmente aceite e tolerada.
- Contudo, a experiência mostra que o alcoolismo é um problema de saúde com graves consequências para seus portadores e as pessoas ao redor.
- Isso sem falar do uso de drogas, tanto lícitas quanto ilícitas, todas elas com altíssimo potencial para destruir vidas e famílias.
Pensamentos negativos
- O principal desafio para quem sofre de transtornos depressivos, fobias, compulsões ou ansiedade é controlar os próprios pensamentos.
- Essas pessoas simplesmente não se conseguem livrar de ideias autodestrutivas e do sentimento de que tudo vai dar errado.
- Em boa parte dos casos, é a mudança de hábitos e de rotina que vai levar à mudança de pensamento.
- Portanto, a partir da mudança do que fazemos, nos habilitamos a mudar o que pensamos e, com isso, mudamos o nosso jeito de ser.
Relacionamentos tóxicos
- Relações pautadas pelo egocentrismo, intolerância ou competição excessiva são também potenciais causadoras de problemas de saúde mental, como a Síndrome de Burnout.
- A terapia de casal é uma alternativa nesse sentido, já que tem como objetivo jogar uma lente de aumento sobre o relacionamento e seus focos de tensão.
- O acompanhamento profissional também é importante porque costuma ser muito difícil romper relacionamentos tóxicos.
- O autoconhecimento é também um caminho, já que, ao conhecer as suas próprias limitações, é possível conviver com elas, modificar o que estiver errado e aceitar o outro como ele é – ou sair da relação.
Sedentarismo
- Já que a prática de exercícios é fundamental para estar mentalmente equilibrado, o sedentarismo causa o efeito oposto, ou seja, prejudica a saúde da mente.
- Isso sem contar as doenças e condições metabólicas que se desenvolvem pela falta de atividade, como a diabetes, obesidade e elevação nos níveis de colesterol.
- Quanto mais ativa fisicamente uma pessoa está, menos exposta a problemas mentais.
Procrastinação
- Quem nunca deixou para amanhã um trabalho que era para ser entregue hoje?
- Todos nós estamos sujeitos a imprevistos que tomam o nosso tempo, mas, quando isso se torna mais frequente que o normal, pode sinalizar algum processo mental falhado.
- Assim, a pessoa se torna uma procrastinadora sem nem se dar conta disso.
- Desculpas como “estou cansado”, “é trabalho demais” ou simplesmente “amanhã termino”, geram um estado mental preguiçoso que, lá na frente, cobrará o seu preço.
- O melhor a fazer é se organizar para dar conta das tarefas no dia em que elas tenham que ser feitas.
- Assim, ficamos em paz com a consciência, com o trabalho e com a família.
Conclusão
É fundamental encararmos os problemas de saúde mental da mesma forma que encaramos as doenças físicas. Ambos necessitam de cuidados e tratamentos para que haja uma recuperação e o regresso à vida normal.
Na maior parte dos casos, os problemas psicológicos manifestam-se de forma gradual e silenciosa e nem sempre é fácil interpretar estes avisos. Mas é importante valorizar os sinais, não ficar à espera que passem nem ter vergonha de pedir ajuda. Procurar ajuda é um ato de coragem que surge com a consciência de que não se consegue ultrapassar todas as dificuldades sozinho.
Quando sentimos que os sinais estão presentes há algum tempo e não estamos a conseguir minimizar o seu impacto, podemos começar por falar com alguém de confiança ou recorrer ao especialista de Medicina Geral e Familiar/Médico Assistente, que reencaminhará para uma consulta de psicologia ou psiquiatria, procurar associações ou grupos de apoio ou agendar diretamente uma consulta com um psicólogo.
Pedir ajuda é dar-se uma oportunidade para se libertar de uma doença difícil de entender e reaprender a viver de forma saudável e feliz.